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Por Marcos Paulo Reis
Dicas sobre corridas para praticantes do esporte, por Marcos Paulo Reis.
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A história de superação de um pai e uma filha no mundo das corridas

Quer conhecer uma história que realmente inspira? Que vai fazer você entender o quanto o esporte pode mudar vidas? Então, prepare seu coração. Compartilho aqui a trajetória do Ronaldo Campos Carnaval, do Rio de Janeiro, hoje com 74 anos, e de sua filha, Fabianna  Carneiro Carnaval, 43, no mundo das corridas. Na infância, era raro […]

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 25 fev 2017, 21h09 - Publicado em 22 nov 2016, 15h00
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Pai e filha juntos na chegada (Foto: Arquivo Pessoal)

Quer conhecer uma história que realmente inspira? Que vai fazer você entender o quanto o esporte pode mudar vidas? Então, prepare seu coração. Compartilho aqui a trajetória do Ronaldo Campos Carnaval, do Rio de Janeiro, hoje com 74 anos, e de sua filha, Fabianna  Carneiro Carnaval, 43, no mundo das corridas.

Na infância, era raro o dia que Ronaldo não praticava algum esporte no colégio. Só que, aos 13 anos, influenciado pelo pai e alguns colegas, começou a fumar. Aos 20 e poucos anos, passou a observar um desconforto ao caminhar. “Andava poucos metros e precisava parar. Fui a um médico, que diagnosticou uma tromboangeite obliterante”, conta.

Casal que corre unido permanece unido

A tromboangeite obliterante é uma doença vascular inflamatória que envolve artérias e veias de pequeno e médio calibre, em geral nas porções distais dos membros inferiores e superiores. Atinge mais homens abaixo de 40 anos e tem forte relação com o tabagismo. O remédio? Abandonar o cigarro!

Aos 27 anos, um ferimento que não cicatrizava em um dedo da mão, evoluiu para uma amputação na segunda articulação. “O médico implorou: não fume, pelo amor de Deus. Só que não segui a recomendação. A gente acredita que pode parar a qualquer momento. Mas a briga é desigual. O vício sempre sai vencendo. No meu caso, tive de passar por muitas situações desagradáveis para conseguir me livrar”, diz.

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Ronaldo mais jovem: ainda no início de sua relação com o esporte

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LUTA CONTRA O CIGARRO

A sensação dolorosa nas pernas passou a ser considerada normal por Ronaldo, que se acostumou a parar de pouco em pouco enquanto caminhava. Nessa altura do campeonato, ele tinha abandonado os esportes.

Uma fratura em um dedo do pé, aos 33 anos, o levou a uma nova amputação. “Não podia imobilizar por causa da tromboangeite obliterante, então essa foi a saída. Foram duas cirurgias para corrigir o problema. No ano seguinte, na perícia médica, o angiologista disse que iria sugerir minha aposentadoria por invalidez. Foi aí que comecei a reagir e procurei ajuda”, conta.

Entre as recomendações, estavam a prática de uma atividade física, como a caminhada, e, claro, largar de vez o cigarro. “Comecei a caminhar, mas não deixei de fumar. Só consegui dois anos depois, com ajuda de acupuntura. Desde então são 35 anos sem cigarro”, orgulha-se.

A corrida entrou na vida do Ronaldo nesse momento, aos 38 anos. “Comecei a dar voltas pelo quarteirão, até que a distância começou a ficar pequena. Passei a ir para a praia e me entusiasmar com o movimento e acabei em um grupo de corrida. Um belo dia, já correndo uns seis quilômetros, me inscrevi em minha primeira prova. Gostei: foram oito quilômetros na Corrida dos Veteranos. Recebi um certificado e enviei para meu médico, que me estimulou a continuar.”

corredor e filha

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A PRIMEIRA MARATONA

Alguns anos depois, um amigo contou a Ronaldo que iria participar de uma maratona. “Perguntei como era aquilo. Quando disse o que seria, logo abandonei a ideia, mas o acompanhei em um treino de 16 quilômetros. Me entusiasmei e acabei me inscrevendo também. Resultado: completei em 6h01. E fiquei uma semana sem andar. Era 1984 e não havia nem medalha, só uma camiseta comprovando a participação”, lembra.

Depois dessa, foram mais cinco: Maratona do Rio 1985 (05h39); Maratona da Cidade do Rio de Janeiro 1987 (4h30); Maratona do Rio 1987 (04h13); Maratona da Cidade do Rio de Janeiro 1988 (4h45); Maratona da Cidade do Rio de Janeiro 1989 (4h30). “Além de cinco meia maratonas, sendo o melhor tempo em 1h39.”

Fabianna era pequena quando o pai parou de fumar e começou a se cuidar. “Tenho lembranças da rotina dos treinos, que começavam às 5 da manhã, além do cuidado com a alimentação. Cheguei a acompanhar meu pai em uma maratona, de bicicleta, levando um isopor com água de coco e mel em sachê. Ele me incentivava a correr, mas eu não sentia prazer. Uma vez ele me inscreveu em uma corrida rústica na Ilha do Governador. Cheguei em penúltimo e voltei para casa falando que não queria mais”, lembra ela.

Tudo ia bem com Ronaldo. Até que um dia, voltando de um treino longo de 28 quilômetros, ele teve um “apagão”. “Procurei um cardiologista, que constatou hipertensão e me recomendou repouso. Só que não resisti e me inscrevi naquela que seria minha última participação em corridas: a Maratona do Rio, com novo trajeto. Porém me comprometi com a família a parar no quilômetro 18, no Leblon, onde a Fabianna estava me esperando.”

corredor e filha

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RONALDO PAROU, FABIANNA COMEÇOU

Ele se submeteu a vários exames até que foi constatada uma hipertrofia ventricular. “A orientação era a mesma: nada de maiores esforços. Mas continuei caminhando. Minha companheira me acompanhava, me mantendo em ritmo confortável. No entanto, nos dias em que ela não estava comigo, eu abusava um pouco.”

Os verdadeiros ídolos do esporte

Ronaldo parou de correr… e Fabianna começou. Aos 31 anos, após duas gestações e incomodada com uns quilinhos a mais, ela se matriculou em uma academia. “Comecei fazendo spinning até me chamarem para fazer uma aula de running na esteira. Fui me empolgando e me enturmando. Aos sábados, os treinos eram na praia do Leblon. O ‘bichinho’ chamado prazer me picou. Minha primeira prova foi de quatro quilômetros, em 2004. No ano seguinte fiz minha primeira meia maratona”, relata.

Em 2006, Fabianna mudou-se para São Paulo, onde foi apresentada a uma assessoria esportiva. “Me adaptei rápido, fiz novas amizades e evolui. Mas a história do meu pai não saía da minha cabeça. A força e a determinação dele me fizeram acreditar que eu podia, sim, correr uma maratona. E foi em 2010, em Chicago. Não parei mais: fiz Buenos Aires (2011 e 2012), Cruce de Los Andes (2013), Paris e Nova York (2014) e Buenos Aires (2015). Esta última teve tudo de especial. Corri os 42 quilômetros bem, sem sentir uma única dor, feliz da vida. O motivo? Meu pai estava lá pela primeira vez me dando apoio! Bati meu recorde pessoal (3:37’59’’) e consegui o qualifying para Boston (2017). Meu coração explodiu de felicidade. Aliás, o do meu pai também!”

filha

NOVA REVIRAVOLTA

Vendo a filha no mundo das corridas, Ronaldo decidiu procurar outro cardiologista. “Ele me liberou para as corridas. Que alívio! Passei a correr cinco quilômetros, depois seis. Atualmente faço oito quilômetros diariamente. Aos sábados, fico entre 10 a 16 quilômetros.”

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A sensação de voltar às competições foi mágica. “Apesar da limitação, estava vencendo obstáculos. Aprendi a não me desesperar e a ter paciência, disciplina e, principalmente, determinação”, diz Ronaldo.

“Quando meu pai falou que o cardiologista tinha liberado a corrida, comecei a sonhar com a possibilidade de poder, enfim, correr ao lado de quem sempre me incentivou e foi minha inspiração para encarar uma maratona. Em julho de 2015, durante as férias escolares, passei uns dias com ele no Rio e treinamos juntos. Percebi que estava ótimo e vi que meu sonho poderia se tornar realidade. Um mês depois, perguntei se ele correria uma prova de cinco quilômetros comigo. Tinha marcado de correr com uns amigos no Rio. Meu pai aceitou e se juntou a nós. Foi uma felicidade tão grande, que logo após a prova planejamos outra, de 10 quilômetros, em setembro”, relata Fabianna.

Correr ao lado da filha emocionou Ronaldo. “Não imaginava que um dia isso pudesse acontecer. Nunca a obriguei a praticar esporte, mas ela sempre participou da minha vida, me via e ainda me vê como espelho. Porém, chegar a correr com ela era algo distante para mim. Sabia que estava em um nível bem superior ao meu e não queria atrapalhar. Ela me acompanhou o tempo todo, deixando os colegas para trás. E chegamos junto. Chorei, mas as lágrimas se misturaram ao suor – e deu para disfarçar”, relata.

corrida pai e filha

MEIA MARATONA PRA COMEMORAR

Depois da prova de 10 quilômetros, Fabianna anunciou em suas redes sociais que o próximo desafio seria uma meia maratona ao lado do pai. “A princípio concordei e, no entusiasmo, achei que poderia. Mas existe uma distância grande entre o achar e o realizar”, conta Ronaldo. Ele começou a treinar. A meia maratona ocorreria em 16 de outubro de 2016, dia de seu aniversário de 74 anos.

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“Chegou a prova. Tremo, transpiro, sinto sede, mas ao meu lado, tenho um escudo, Fabianna. No início da prova tem logo uma subida. Vimos muita gente andando e fomos ultrapassando os mais lentos. Passamos pelo Leblon, Ipanema, até chegar a Copacabana, quando o sol começou a castigar. A fadiga começou, mas Fabianna não me deixava parar. Nos postos de hidratação ela apanhava água e enchia a garrafa que me acompanhou durante toda prova. Gel não faltava nos bolsos dela. Tudo passava pela minha cabeça. Lembrei até da primeira maratona, em 1984. Eu não podia pensar em parar. Era minha comemoração, meu aniversário, meu reencontro com uma corrida longa, na companhia da minha filha. Além disso, minha mulher – que começou a correr aos 62 anos – estava participando da prova de cinco quilômetros e nos esperaria no final. Culpa minha estimular as duas… Só tenho a agradecer à filhota e a companheira que me suportaram e ajudaram em todos os momentos”, lembra.

A meia maratona também foi especial para Fabianna. “Talvez o fato mais emocionante depois do nascimento dos meus três filhos. Só desgrudava do meu pai para pegar água em todos os postos de hidratação. Apesar do sol forte, eu tinha condições de fazer uma boa prova, mas esse não era o propósito. Meu objetivo era dar total apoio, uma forma de agradecer o exemplo que ele foi para mim. Em cada quilômetro olhava para meu pai e me emocionava. Sei que não foi fácil para ele pelo calor e, principalmente, por ter ficado mais de 20 anos sem correr. Ali, mais uma vez meu pai me deu exemplo de força e superação.”

Novos planos à caminho? “Sim: outra meia maratona e, quem sabe, até uma maratona”, diz, confiante, Fabianna.

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