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Aldeias próximas ao Pico do Jaraguá sofrem com abandono de cães

O Ministério Público Federal pediu ao Centro de Controle de Zoonoses uma solução para o problema

Por Carolina Giovanelli
Atualizado em 1 jun 2017, 17h11 - Publicado em 14 nov 2014, 23h00

Em uma das entradas da terra indígena instalada próximo do Pico do Jaraguá, na Zona Norte, constituída de duas aldeias e aproximadamente 800 habitantes, uma placa pouco amigável alerta: “Seu animal, cuide de seu bichinho! Abandono é crime!”. Nos últimos anos, o povoado de etnia guarani virou ponto de abandono de bichos, em sua maioria cães. Cerca de 400 deles perambulam por ali. Principalmente à noite, carros passam pelas vias ao redor para desovar os pets, quase sempre doentes, idosos ou prenhes.

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Os motoristas não costumam parar, apenas diminuem a velocidade. Assim, a possibilidade de ser flagrados diminui, o que evita a abertura de processos. Em caso de condenação, o infrator pode receber uma pena de três meses a um ano de detenção, além de multa. O hábito tingiu com um tom de crueldade o quadro já bastante triste de uma área extremamente pobre da cidade. As ruas de terra batida, ladeadas por casebres, são cheias de fezes, pilhas de lixo e restos de comida. Crianças brincam descalças por ali.

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Em 20 de outubro, o Ministério Público Federal fez uma recomendação ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) para recolher os cães sem dono do lugar e tomar providências para impedir novos abandonos. O caso deum pit bull agressivo largado no pedaço e preso pelos moradores para não atacar ninguém motivou o processo — o CCZ recolheu-o no dia 17. Comprazo de dez dias para se manifestar, o órgão enviou um ofício ao Ministério Público explicando que, por motivos como a falta de espaço, seria impossível abrigar todos os pets. Hoje, no abrigo instalado em Santana, ficam à espera de adoção 400 cachorros, recolhidos de todos os bairros da cidade. Ou seja, para resgatar os animais vindos das aldeias do Jaraguá, seria necessário dobrar a capacidade do local.  

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O CCZ já desenvolve ações periódicas na região indígena, com projetos de castração, vacinação, vermifugação, microchipagem e atendimento veterinário. “O ofício ainda está em processo de análise, que deve ser finalizada na próxima semana”, afirma o procurador Adilson Paulo do Amaral Filho, responsável atualmente pelo inquérito civil. “Mas é pouco provável entrarmos com uma ação, pois nos foram dadas explicações plausíveis sobre a impossibilidade de resolver o problema imediatamente.” O passo seguinte deve se dar em uma reunião com outros órgãos, como a Polícia Militar, para promover uma ação conjunta.

Vários bichos acabam sendo acolhidos pelos guaranis. A índia Maria Lucia Tatarocin cuida de quinze cães e três gatos em sua casa. “Não quero que os levem embora”, diz. Quase todos, entretanto, se incomodam com a bicharada, caso da auxiliar escolar Sonia Barbosa. Ela evita andar por algumas ruas com medo de ser atacada. Recentemente, um rapaz foi mordido. “À noite, fica difícil dormir com tantos latidos”, reclama Sonia. “Eles correm atrás dos carros e alguns chegam a ser atropelados.” Infestações de sarna e carrapatos também incomodam a população.

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Para tentar resolver a questão de saúde, foi instalada uma unidade móvel de tratamento veterinário em uma das aldeias em 19 de outubro. É uma parceria entre a prefeitura e a Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-SP). Um profissional passa quatro horas por dia no pequeno trailer adaptado para as consultas, enquanto uma enfermeira fica disponível durante todo o dia. Até agora, 150 pets receberam atendimento. O posto ficará lá por três meses. “Identificamos seis tipos de parasita nas fezes dos animais”, relata José Fernando Ibañez, presidente da Anclivepa-SP. “Também orientamos os índios a tentar melhorar as condições de higiene do local, que tem falhas de saneamento básico.”

Aldeia Jaraguá
Aldeia Jaraguá ()

Enquanto as autoridades tentam resolver de uma vez por todas o problema, algumas iniciativas de pessoas sensibilizadas com a situação ajudam a amenizar as condições precárias da área. Há quinze anos, a representante comercial Maria Aparecida Carvalho, a Cida, esforça-se para não deixar os bichos de barriga vazia. Mensalmente, arrecada por meio de doações cerca de 7 000 reais, transformados em 2 toneladas de ração para cachorro e400 quilos de comida para gato. No site www.aldeiadojaragua.blogspot.com.br,ela relata algumas das entregas. Às vezes, auxilia as mascotes ainda com remédios veterinários. “Prevenir o abandono é o ponto fundamental”, acredita. “Por problemas de saúde, já tentei parar com o trabalho, mas não consigo. Estou muito envolvida com o drama deste lugar.”

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