Tudo Que Eu Queria te Dizer
- Direção: Victor Garcia Peralta
- Duração: 60 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
Ana Beatriz Nogueira, de calça e camisa pretas, entra no palco e conta como nasceu o projeto de levar ao teatro as cartas fictícias publicadas no livro da escritora Martha Medeiros. Em busca do pacto, a atriz toma um pouco de água, comenta que andou gripada nas últimas semanas e lê uma correspondência remetida a ela pela própria Martha. A luz se apaga, e Ana Beatriz se transforma em Renata, que escreve para o marido avisando que vai passar o final de semana fora e, na segunda, entra em contato para tratar do divórcio. O motivo, banal para muitos, é vital em sua visão: não sai de sua cabeça a sensação despertada por um beijo apaixonado que ganhou aos 16 anos de um rapaz que sabe Deus onde foi parar. A protagonista muda a cadeira de posição e aparece como Andressa. Depois de dois anos, ela recebeu um cartão-vermelho do amante e, agora, faz questão de se apresentar para a mulher dele, que não faz ideia da traição. Ápice da montagem, a octogenária Clô, sentada na mesa da cozinha, escreve para o marido, morto há duas décadas, para lhe dizer que ele é “um felizardo por não ter conhecido as limitações impostas pela velhice”. Com a voz fraca, curvada e os movimentos sutilmente trêmulos, a terceira personagem coloca Ana Beatriz no pódio das intérpretes incomuns em uma prova de domínio técnico e sensibilidade. Depois de tal impacto, as cenas posteriores envolvendo a rabugenta Dirce e a psicóloga Clarissa resultam menos originais e aliviam uma progressão dramática que vinha sendo desenhada. Sob a direção de Victor Garcia Peralta, Ana Beatriz, no entanto, diverte e emociona e, se nem todas as histórias surpreendem, a atriz se coloca entre as principais de sua geração. Estreou em 6/5/2016.