Chorume
- Direção: Vinicius Calderoni
- Duração: 90 minutos
- Recomendação: 14 anos
Resenha por Dirceu Alves Jr.
O dramaturgo e encenador Vinicius Calderoni encerra a trilogia Placas Tectônicas com a comédia Chorume. O começo de tudo foi a surpreendente Não Nem Nada (2014), dirigida ao lado de Rafael Gomes, que teve sequência em Ãrrã (2015), valorizada pelos atores Luciana Paes e Thiago Amaral. O novo trabalho mantém a bem-sucedida fórmula. Os atores Fabrício Licursi, Geraldo Rodrigues, Guilherme Magon, Julia Corrêa, Mayara Constantino, Paulo Vinicius e Renata Gaspar revezam-se em dezenas de personagens nos jogos teatralizados através do texto ágil, picotado e criativo de Calderoni. Em comum, as dezesseis cenas da peça giram em torno do lixo, do descartável em seus múltiplos significados, coisas desprezíveis do dia a dia. Os descasos sociais, os exageros em nome do politicamente correto e as sátiras aos programas televisivos originam divertidas situações. Em uma das melhores histórias, Rodrigues e Mayara representam dois amigos que se reencontram depois de algum tempo. Falam dos filhos e combinam um jantar com os respectivos parceiros. Até que uma pergunta gera um mal-entendido próximo ao universo de Franz Kafka, e os dois acabam nos tribunais. Em outro esquete, Renata brilha em um solo ao descrever um velho conhecido. Trata-se de um depoimento semelhante aos vistos nas atrações dominicais da TV em que são reveladas intimidades e o homenageado é ovacionado em rede nacional. Crônicas contemporâneas, várias delas absurdas, as cenas têm uma urgência que lembra a das redes sociais e obriga a plateia a permanecer conectada o tempo inteiro. O elenco versátil conduz bem as múltiplas transformações. Se, por vezes, falta uma mão mais firme de Calderoni na direção, principalmente na encenação, os textos se sobrepõem à estética e reforçam o poder da palavra. Estreou em 1º/7/2017.